quinta-feira, 28 de julho de 2011

A lata de leite


Dois irmãozinhos maltrapilhos, provenientes de uma favela - um deles de cinco anos e o outro de dez, iam pedindo um pouco de comida pelas casas de uma das ruas de São Paulo.

Estavam famintos: “Vai trabalhar e não amole”, ouvia-se detrás da porta; “aqui não tem nada neguinho...”, dizia outro... As múltiplas tentativas frustradas entristeciam as crianças...

Por fim, uma senhora muito atenta disse-lhes: “Vou ver se tenho alguma coisa para vocês... garotinhos!” E voltou com uma latinha de leite.

Que festa! Ambos se sentaram na calçada. O menorzinho disse para o de dez
anos: “você é mais velho, tome primeiro... e olhava para ele com seus dentes brancos, a boca semi-aberta, mexendo a ponta da língua”.

Eu, parado, como um tolo, contemplava a cena... Se vocês vissem o mais velho
olhando de lado para o pequenino...!

Leva a lata à boca e, fazendo gesto de beber, aperta fortemente os lábios para que por eles não penetre uma só gota de leite. Depois, estendendo a lata, diz ao irmão: “Agora é sua vez. Só um pouco”.E o irmãozinho, dando um grande gole exclama: “como está gostoso!”.

“Agora eu”, diz o mais velho. E levando a latinha, já meio vazia, à boca, não bebe nada. “Agora você”, “agora eu”, “agora você”, “agora eu...”. E, depois de três, quatro, cinco ou seis goles, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, com a camisa de fora, esgota o leite todo... ele sozinho.
Esse “agora você”, “agora eu” encheram-me os olhos de lágrimas...

E então, aconteceu algo que me pareceu extraordinário. O mais velho começou a cantar, a dançar, a jogar futebol com a lata de leite.

Estava radiante, o estômago vazio, mas o coração trasbordante de alegria. Pulava, com a naturalidade de quem não fez nada de extraordinário, ou melhor, com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas extraordinárias, sem dar-lhes maior importância.

era assim que deveria ser pra nós também, dar uma lata de leite para alguém que precisa como se fosse algo natural, nada de extraordinário.

“E quem der a beber, ainda que seja
um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu
discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu
galardão”. Mateus 10.42

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