as nuvens roxas e os trovões ressoando quando eu, andando na minha suja estrada, levantei meus olhos sobre o monte à minha frente. E o que eu vi são imagens que jamais esquecerei: gotas de sangue caindo na terra seca, suor transpirando pela pele cansada e a dor transmitida por um olhar de compaixão. Enquanto o vento rugia forte eu pude ouvir ao longe os gritos das pessoas que estavam ao seu redor e vi outras batendo e cuspindo na sua pele quase sem vida. E então Ele olhou em meus olhos, aquele olhar profundo revelava o mais puro, real e verdadeiro amor que eu jamais vi. Quando notei isso tive que desviar os olhos. Eu enxerguei o que realmente era: uma egoísta, orgulhosa e hipócrita que nunca havia conhecido o verdadeiro sentido da palavra amor mas que mesmo assim a usava em quase todas as frases. E então pela primeira vez senti vergonha, mas não como aquela de criança quando é pega fazendo algo errado, uma vergonha tão desesperadora que me ajoelhei, coloquei as mãos no rosto e não pude mais conter as lágrimas que caíam freneticamente no chão, alternadas de soluços sinceros. E então eu olhei para o alto do monte de novo, mas aqueles olhos tão sinceros já estavam fechados, sem vida. Eu não conseguia entender, porque Ele faria uma coisa daquelas? Por que Ele pagaria o preço pelo que eu fiz? "Eu sou tão egoísta" pensava, "sou orgulhosa, quero que as honras sejam todas minhas, quero fama, poder, dinheiro, tenho pensamentos sujos... não poderia haver alguém mais pecador do que eu", enquanto as lágrimas escorriam no meu desespero, senti algo tocar meus ombros, levantei a cabeça e O vi. Suas mãos, que ainda tinham as marcas dos pregos, me abraçaram, no mais sincero e profundo abraço. Ele enxugou minhas lágrimas e sorriu. Foi quando aquela pergunta assustadora ressoou em minha mente de novo "por que Ele faria isso?". Ele não disse nada, mas eu pude ver a resposta naquele olhar profundo ressoando mais alto do que qualquer dúvida que eu tinha: "Porque eu te amo".
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